Barco a vapor histórico naufragado há mais de 150 anos reaparece no mar de Búzios
Batizado de Galgo, navio que encalhou em 1874 transportou mais de 500 homens durante a Guerra do Paraguai


Os frequentadores da Orla Bardot, em Búzios (Rio de Janeiro), encontraram algo diferente nas águas entre as praias do Canto e da Armação: os destroços de um barco a vapor que serviu ao Brasil na Guerra do Paraguai, naufragado há mais de 150 anos.
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Segundo a Secretaria de Cultura, por meio do Centro Municipal de Memória de Búzios, o barco naufragado se trata do vapor Galgo, do município de Macaé (RJ), que sofreu um encalhe em setembro de 1874.
A curiosa — e histórica — aparição da embarcação aconteceu por volta das 10 horas da manhã e coincidiu com a mudança de fase da lua, que ou da fase Quarto Minguante para Nova às 00h02 do dia 27 de maio, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).


As alterações lunares interferem na intensidade das marés, podendo aumentá-las. Durante as luas Nova e Cheia — quando o Sol, a Terra e a Lua estão alinhados — , as forças gravitacionais se somam e resultam em fluxos de água mais altos e mais baixos do que o normal. Logo, a Super Lua Nova — que não é visível a olho nu — pode ter contribuído para o reaparecimento parcial do Galgo naufragado em Búzios. No entanto, nada foi confirmado.
Como tudo acabou
De acordo com pesquisadores do Centro de Memória Buziana, no dia do naufrágio, o Galgo ia do porto de Macahé (Macaé) até a cidade do Rio de Janeiro, transportando uma carga de milho e café, além de 15 ageiros.


No dia 16 de setembro de 1874, o barco começou a encher de água, e o capitão decidiu encalhar o navio na praia de Armação de Búzios. Todos os ageiros foram desembarcados antes que ele naufragasse, enquanto a carga foi vendida no próprio local.
Segundo o Naufrágios do Brasil, quatro dias depois, uma comissão foi levada ao local do naufrágio para examinar se o barco tinha chance de ser resgatado. Não tinha. O estado do casco e a posição que o Galgo se encontrava tornaram a operação inviável.
Assim, o que antes valia 80 mil contos de réis (moeda da época), teve seus restos leiloados por 1,2 mil contos de réis. Inclusive, as ferragens do Galgo, apesar do tempo — mais de um século — , continuaram a ser saqueadas por moradores e exploradores marítimos.
Responsabilizado pelo naufrágio, o comandante do vapor, Antônio Gonçalves Tinoco Júnior, cometeu suicídio dias depois. Uma casa localizada próxima ao ocorrido alimenta história de assombrações que persistem na região até os dias atuais.
Um pedaço da história
A história do Galgo encalhado em Búzios não se resume apenas ao seu naufrágio. Com cerca de 12 toneladas, o barco pertenceu a diversas companhias brasileiras, como a Macaense União Fluminense e a Companhia Brasileira de Paquetes a Vapor. Até uma guerra o navio já enfrentou.


Durante o período da Guerra do Paraguai (1864 a 1870), o Galgo esteve fretado ao Império do Brasil. Logo, o navio fez diversas viagens de Buenos Aires (Argentina) até Montevidéu (Uruguai), transportando por inúmeras vezes as tropas brasileiras para a região, chegando a levar 502 homens.
Segundo registros, em 1866, o barco salvou os náufragos do brigue (tipo de embarcação a vela de dois mastros) português chamado Chile, que estava perdido em Ponta Negra, no Uruguai.
No final do conflito, o Galgo também foi responsável por trazer de volta ao Rio de Janeiro o Gastão de Orléans, Conde d’Eu — príncipe francês casado com a herdeira do trono brasileiro, a Princesa Isabel.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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