Pescadores trabalham sob luz de lanternas no maior lago da África


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Conforme o sol se põe sobre as águas do Lago Vitória, o barulho das ondas quebrando é abruptamente abafado pelo ronco dos motores dos pesqueiros que surgem no horizonte. Os pequenos barcos parecem fazer parte da paisagem. À medida que o brilho do dia vai se perdendo, eles se fazem mais presentes.
Há séculos, as águas do Lago Vitória são tomadas por barcos pesqueiros que, durante a noite, garantem a alimentação de diversas tribos — nas mais de três mil ilhas — espalhas pelo lago, que abrange os territórios do Quênia, Tanzânia e Uganda. Com 68 870 km² de área (quase a área da Irlanda), o lago é o maior do continente africano.
Em uma noite no lago, a bordo do pesqueiro dos irmãos Mike e Robinson Okeyo, o fotojornalista Jeffrey Walcott detalhou como é a saga dos pescadores noturnos do Lago Vitória na coluna “Boats and Boating”, (Barcos e eios de barco), do New York Times.


Como é noite, a superfície do lago se confunde com uma cidade: cheia de luz. Ao anoitecer, as estrelas são ofuscadas pelas lanternas e os pescadores flutuam nas águas para atrair os peixes à suas redes. Outrora, a maioria usava lanternas de parafina, mas agora estão mudando para o uso de lâmpadas portáteis (e recarregáveis) alimentadas por pequenos painéis solares.
A partir disso, todos os pescadores só tem olhos para uma espécie de peixe, que é própria e única dessa região: o “omena”. Para você que se perguntou: “O que é um omena?”, não preocupe, essa espécie só é encontrada na água doce do Lago Vitória.


Mas, por que pescam à noite?
Segundo Mike Okeyo, que há cinco anos se aventura nessas águas, quando é dia o omena se esconde, mas às noites, com o auxílio da luz das lanternas, o peixe sobe até a superfície, facilitando o trabalho dos 400 barcos que pescam omena depois que o sol se põe.
Apesar do alto número de pescadores, o omena ainda é um peixe mais fácil de capturar quando comparado à perca do Nilo ou à tilápia, que têm sofrido uma sobrepesca crônica na região. “É o único peixe confiável, porque é muito fácil de pescar”, disse Mike Okeyo. “A tilápia e a perca do Nilo precisam de muito suor para serem capturadas”, acrescenta.


Consequentemente, o número de peixes está diminuindo à medida que mais pescadores buscam a profissão para se sustentar. A facilidade de se pegar o omena pode ser relativa, pois os pescadores têm que ar a noite inteira em pequenos barcos, com tripulações de até cinco pessoas. Nenhuma captura é garantida. A competição aumentou tanto que às vezes a violência irrompeu no lago — o que, na pior das hipóteses, resultou em afogamentos.
Como funciona a comercialização dos omenas
No final de cada noite, os pescadores de omena puxam suas lanternas e se dirigem para a costa, onde o preço do omena é mais alto. Normalmente, são vendidos para dois tipos de clientes: os locais, que secam o peixe e vendem aos consumidores; ou empresas, que usam o peixe na criação de ração animal.
Pescadores e gerentes de mercado medem colheres de omena para serem vendidas aos residentes da Ilha de Mfangano, no Quênia. Essa ilha é usada como “base” para os pescadores quenianos.


Em outros casos, os pescadores quenianos encontraram problemas com as autoridades de Uganda, visto que a fronteira entre Uganda e Quênia fica a quase um quilômetro da ponta da Ilha de Mfangano. A pena para cruzar a fronteira não marcada na água pode ser enorme, cobrada com multas ou confisco de equipamentos.
Independentemente do cliente, o salário ganho ajuda quase todos na comunidade. “A indústria pesqueira teve um impacto positivo nas vidas dos pescadores e da população da Ilha de Mfangano”, explica Robinson Okeyo. “Vários jovens estão investindo no negócio, que em troca está criando oportunidades de emprego”, completa.


Ao mesmo tempo, a pesca, disse ele, também apoia outros negócios auxiliares: lojas, restaurantes, construtores de barcos e mecânicos de popa. Em suma, é interessante de se pensar o quanto um ecossistema pode ter um impacto social na vida de tantas pessoas, envoltas da mesma comunidade.
Por Gustavo Baldassare sob supervisão da jornalista Maristella Pereira
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