Conheça o planalto que sofreu danos irreversíveis no fundo do mar
Extensão localizada no Sudeste dos Estados Unidos sofreu com a extração de minérios e jamais se recuperou do impacto


No campo da filosofia, o pensador pré-socrático Heráclito defendia a Teoria do Fluxo, em que não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois tanto o rio quanto a pessoa não já não seriam os mesmos. Entretanto, no Oceano Atlântico, quem visitar o Planalto Blake, de fato, não verá as mesmas águas de outros anos.
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Localizado na costa da Carolina do Norte, Estados Unidos, a extensão repleta de criaturas brilhantes e curiosas carrega as cicatrizes de um experimento realizado há mais de 50 anos: o primeiro teste-piloto de mineração em alto-mar do mundo — e que não foi bem-sucedido.


Em 1970, a empresa americana Deepsea Ventures usou uma máquina rudimentar — que funcionada no estilo de um aspirador de pó — para realizar a extração dos minérios no fundo do mar, numa região marcada por sulcos profundos (depressões alongadas e estreitas no leito oceânico).
Por um lado, foi um sucesso: a companhia recuperou 60 mil nódulos ricos em minerais — isso é, rochas compostas de níquel, manganês e colbato — que são requisitadas até hoje para aplicações tecnológicas. Por outro, porém, fracassou comercialmente e deixou um impacto ambiental irreversível.


Em 2022, cientistas voltaram ao Planalto Blake com um veículo operado remotamente no trecho onde a exploração foi realizada. Lá, ao invés de ameaça, encontraram algo mais assustador: o vazio. A área apenas lembrava o que tinha antes da mineração.
O que encontraram foram rastros surpreendentemente bem preservados na lama, que se estendem por mais de 43 quilômetros. Porém, uma simulação de mineração separada feita em 1989 mostrou que a biodiversidade do local permaneceu reduzida, com a vida microbiana se recuperando apenas parcialmente.
Só restaram lembranças
A microbiologista Samantha Joye e outros cientistas alertam que o ocorrido no Planalto Blake, pode servir de lição — no caso, do que não fazer — para regiões que agora são alvo de operações parecidas, como a Zona Clarion-Clipperton, no Oceano Pacífico.


Segundo estudo publicado na revista científica Nature neste ano, os efeitos a longo prazo da mineração no fundo do mar são alarmantes na sustentabilidade. Na pesquisa, os cientistas analisaram uma região explorada em 1979 e concluíram que a área sofreu uma perturbação geológica definida como “duradoura”.
Os impactos biológicos são menos confiáveis e mensuráveis, pois alguns locais explorados tiveram recuperação da vida marinha, enquanto outros, não. Logo, esses casos sugerem que a recuperação da fauna de águas profundas é mais imprevisível e lenta do que o estimado.
Antes e depois do Planalto Blake
Uma impressionante cordilheira de águas profundas, o Planalto Blake apresenta impressionantes pilares da vida marinha, além de ser a cobertura com o maior habitat de recifes de corais em águas profundas da Terra. Joye, veterana no assunto, descreve o local como um dos mais diversos que já estudou.
Durante um mergulho, em 2018, a bordo do submersível de águas profundas, a microbiologista desceu mais de 2 mil metros e diz ter ficado encantada.
Trabalhei em todos os lugares e fiquei impressionada com o Planalto de Blake. É espetacularmente diverso– disse a cientista à BBC
Essa área é alimentada pela poderosa Corrente do Golfo e exibe ecossistemas oceânicos dinâmicos de sua superfície ao fundo do mar. Logo, as infiltrações de metano e corais de água profundas sustentam uma ampla diversidade de vida marinha.


Inclusive, peixes como o Atum, tubarões e outras espécies ameaçadas de extinção dependem de um Planalto Blake saudável. Afinal, as espécies marinhas ainda têm salvação — ao contrário do fundo do mar, totalmente esvaziado de minérios que nunca voltarão.
Enquanto a mineração subaquática ganha força em nome da transição para energia limpa, as cicatrizes — que nunca se fecharão — do Planalto Blake serve para nós como um alerta de que aquilo que tiramos pode nunca se recompor e a natureza pode jamais ser a mesma de antes, como diria Heráclito.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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